domingo, 8 de novembro de 2009

As Árvores Altas

O folhear das páginas amarelecidas dos velhos jornais traz à memória, outras folhas, as das Árvores Altas. Dos tempos de criança guardo apenas a imagem difusa de um estreita e ondulante via que ligava a nossa vila à “Variante”. As árvores de porte imponente já lá não moravam.
Um caminho de contornos difíceis que se percorria para a Ponte Pedrinha e para a discoteca/restaurante “LP”. Tudo o resto eram terrenos agrícolas, na sua maioria da família Garrett. Mas também do estimado e saudoso vizinho Fazenda.
A imagem a preto e branco que dá suporte a uma notícia transporta o cenário para outros tempos e num exercício de magia tento dar cor e vida aos contornos que enformam o retrato. Até porque, o autor do texto garante que “o sítio, aquele lugar, as árvores, perduraram para sempre na memória de todos”. E o pragmatismo de tempo tem destas coisas, de ser capaz de mudar radicalmente um lugar, uma vila. Mas uma memória…

“As Árvores Altas

As Árvores Altas que tantas e tantas vezes serviram de abrigo ao viandante que, surpreendido por forte chuvada alise abrigou ou descansou à sua sombra, quando extenuado de longa caminhada, começaram a sofrer os golpes impiedosos do machado e vão tombando para não mais serem vistas.
Dispostas em duas alas, qual parada sempre pronta a render homenagens aos visitantes, aquelas árvores, aquelas árvores seculares viram chegado o seu fim.
Não mais se sentirá o prazer de suas sombras, tão apetecidas nos escaldantes dias de Estio, nem voltarão a constituir perigo para os condutores de veículos, que por imprevidências ou avarias mecânicas, com elas chocaram muitas vezes, nem se correrá já mais o receio de algum utente ficar esmagado debaixo de alguma que, pelos longos anos de vida soçobre a um temporal mais forte.
As Árvores Altas vão deixar de existir. O seu nome, porém ficará ligado ao sítio, e perdurará para sempre na memória de todos os tortosendenses”.
Texto publicado em Abril de 1966 no Jornal do Fundão